#148 VTMU: Vale Tudo Musical Universe (versão expandida)
Uma playlist para quem se descobriu, ou sempre soube, noveleiro
Uma coisa clássica do Brasil é novela. Acontece que, se você é gringo, ou se não acompanha mesmo, atualmente está no ar uma novela que é um clássico de Brasil.
Remake da história original que foi ao ar em 1988, "Vale Tudo" usa os personagens para brincar com a ideia de que "será que é possível vencer na vida honestamente, ou Vale Tudo?". Quem busca métodos éticamente questionáveis para sobreviver no capitalismo tropical afinal, está mesmo tão errado assim? Tem uma diferença entre desonestidade "necessária" e só pura maldade mesmo? Tem limite para que os fins justifiquem os meios, e se sim, quem decide esse limite?
Eu sempre fui noveleira — na minha família, a gente acompanha os folhetins e discute as situações com humor, opiniões polêmicas, e muita seriedade. Se o personagem entrou por um lado da porta com a camisa pra fora da calça, e chegou pelo outro com a camisa dentro da calça, é um absurdo! Ce n'est pas possible, como diria Odete Roitman. Novela é coisa séria, tipo futebol. Eu e minha mãe (tive a quem puxar) sempre acabamos indo um passo além: sabemos sobre autores, atores, e vários outros detalhes (nada supérfluos) das mega produções.
Foi com minha mãe também que eu entendi o universo musical das novelas. Ela colecionava CDs de trilhas sonoras (versões nacionais e internacionais), que nada são além de coletâneas, de todas as músicas tema de cada personagem.
Entrar para uma trilha sonora é uma honra. Carreiras mudam, carreiras são feitas, só por emplacar o tema certo no horário certo. Rita Lee é a recordista eu acho, com mais de 80 músicas em trilhas sonoras — ela fala muito sobre isso, e sobre como muitas delas acabaram parando lá (quase que por acidente às vezes) em Uma Autobiografia, de 2016.
Tem a banda Lamparina também, que teve a história mudada graças às novelas. A entrada da música Pochete na trilha sonora de Cara e Coragem foi um divisor de águas na carreira da banda mineira. A exposição em horário nobre ampliou significativamente o alcance do grupo, levando seu som para um público muito mais amplo e diversificado. A vocalista Marina Miglio falou da importância de produzir músicas que tenham relevância e durabilidade, indo além de modismos passageiros. E novela é isso, um recorte (ainda que nem todo mundo concorde) muito real, e relevante, da época.
Mais recente ainda, Holzier veio ao Brasil para alguns shows que eu me arrependo amargamente de não ter ido, e nas rodadas de imprensa a querida Dora Guerra, do g1, nos fez o favor de informá-lo sobre a presença de Nobody’s Soldier em Vale Tudo, tema do Marco Aurélio.
Como a Dora conta, as trilhas sonoras geralmente são compostas por um número limitado de músicas, que fazem parte da lore do personagem e se repetem bastante ao longo dos episódios.
Todo mundo sabe quando toca essa que a LOBA vem aí.
Todo mundo sabe quando toca essa que o trambiqueiro do César vai aprontar alguma com o comparsa safo, Olavo.
Enquanto isso, Emicida e Zeca Pagodinho embalam os momentos de parceria inabalável de Poliana e Raquel.
Tem um episódio de “New Music Business'“ com Ari Herstand para quem tem curiosidade sobre produção de música para audiovisual. É uma entrevista com Jen Malone, tá em inglês mas como sempre digo: vai aprender inglês fia! (Uma língua besta dessas e vocês dando mole sem poder acessar um monte de informações por isso. Português é muito mais difícil e vocês aprenderam, não duvide da sua capacidade de aprender uma nova língua!).
Enfim, no fim, escolher música para um filme, série ou novela, é muito mais do que só escolher a música. Ainda bem que eu sou só uma desocupada na internet, então tomei a liberdade e a responsabilidade de pensar em uma trilha sonora expandida, para além das músicas que já fazem parte da novela. Uma versão assim, num mundo sem budget para pagamento de royalties.
Ménage à trambique: Fátima x César x Afonso em Paris
Eu acho que essa nova fase quem vem aí com o casamento da Faty e Afonsinho, e consequente partida para Paris merecem uma renovada nos ares sonoros também. A gente sabe que o César, até o que tudo indica em 10 de julho, vai junto. Esse triângulo amoroso vai ficando cada vez mais perigoso e eu acho que a Fátima gosta, sabe? Elegi UANA para nossa malvada favorita e ela tem 40 segundos até o refrão para construir sua cena, fazer o charminho e atacar. Vai fióte de loba!
Falando em nova fase
Com a (quase certa) passagem de tempo que vem por aí, Raquel enriquecendo e tal, acho que precisamos de um tema geral que nos lembre que “aqui se faz, aqui se paga”, algo alto astral, mas ainda vida real. Sem Lei, fresquinho de Coisas Naturais (2025) da Marina Sena é perfeita pra isso.
A nova Raquel
Divina Casca (2025) de Rachel Reis também não posso deixar de fora. Ninguém melhor para falar de volta por cima do que Rachel Reis. Rachel Reis está por cima até quando está por baixo. Ela te levanta, sabe? Pra um bom egoísta, outro excepcional, como ela nos ensinou.
Eu acho que todos os personagens em geral voltam com um pouco mais de malícia nessa nova fase (principalmente a nossa Raquel Acioli), por isso: Casca, da Rachel para a Raquel — que eu espero sinceramente ela tenha criado a sua própria à essa altura. Quero ouvir o mantra “não há ninguém que eu queira ser além de mim” e ver uma montagem da Raquel fazendo muitos negócios como executiva de sucesso, chef renomada, ícone empreendedor, jurada convidada no Master Chef (ou naquele reality de culinária da Globo que sinceramente, pra que, né?).
Ainda sobre a Raquel, ela e o Ivan vão se reencontrar a tentação vai ganhar (um beijo, no máximo?), mas é só pra lembrar a gente de que eles um dia foram um casal. Ainda vai demorar mais umas dezenas de capítulos para eles finalmente ficarem juntos, então precisamos de uma música tensa, Ivan está com Heleninha, afinal. E se Lenine canta o tema do casal Ivaninha desde que eles flertavam pelas costas da Raquel, nada mais justo que Lenine cantar o tema de Racan.
E afinal, casais iô-iô são um MUST HAVE em novelas brasileira, certo? Solange, a mocinha Duprá, ainda vai ter sua carteirinha de feminista-resistência cassada de tanto que vai se desviar por causa do lerdo do Afonso. A química do casal é espetacular e inegável mesmo, nem ligo. Tão delicado e sensual quanto Cazuza para fazer jus a antecessora Faz Parte do Meu Show, só BIAB na minha opinião.
A novela em que amamos os vilões
Sabe quem merece um tema também? A Leila. Quero ver a Leila bem perua, fazendo compras no exterior ao som da abertura de WELTiTA do Bad Bunny, tava faltando ele nessa novela. Dois fenômenos de 2025 unidos. Já consigo até imaginar a Carolina Diekman virando de frente e jogando o cabelo assim: bem comida (se você não vê a novela não consigo te explicar porque essa piadoca não é machista).
E como a moda agora (ou sempre, né) é reviver clássicos dos anos 80, nada mais apropriado do que Never Tear Us Apart do INXS para tema de Marco Aurélio, e Marco Aurélio e Leila, sua nova parceira de crime. [SPOILER?] Na novela original, em 1988, o Marco Aurélio faz o diabo, ele é o diabo e no final foge impune (fazendo “banana” pro Brasil) em seu jatinho. Never Tear Us Apart parece ter sido feita sob medida, para essa cena, ou vice e versa.
Mas isso é só pro final ainda, antes disso vai ter muita ação. Por isso joguei a “vilanesca” we never dated do sombr no mix também, Marco Aurélio tá no meu top 5 personagens preferidos, ele merece duas músicas, vai! É o Alexandre Nero!
Uma notícia muito triste
Eu não acho que a Heleninha vai ter um final feliz. Não faria muito sentido. Eu acho que o final da Heleninha tem que ser o início da nova vida dela. Uma das coisas mais absurdas é ver as pessoas se referindo a ela, uma mulher de 40 anos, como “garota”. Tenha santa paciência!
Ela é mesmo uma adolescente emocionalmente falando. Heleninha é a protagonista perfeita para chorar ao som de Amado, clássico presente em mais de uma novela mas eternizado em A Favorita (2008, Rede Globo), da Vanessa da Mata. Como Vale Tudo ama Gal Costa, podemos intercalar com O Que É Que Há.
O Poliana merecia mais!
Quer saber? Eu acho um desperdício tão grande o que tão fazendo com o Matheus Nachtergaele. Gente, é o João Grilo de O Auto da Compadecida!! O Olegário de Cine Holliúdy!! Uma personagem assexual foi o máximo que conseguiram inventar pra ele e nem usaram isso para falar de nada. Gente, não tem nada a ver com a personagem ser [insira aqui qualquer característica] mas se mencionam e dão tanto enfoque naquilo, tem que ter um motivo né? Se reforçam muito que o cara é pegador, eu quero ver ele pegando gente. Se mencionam que o cara não sente desejo sexual, eu quero ver mesmo como que isso impacta a história dele (para além de ficar uma moça no pé dele e ele recusando).
Por exemplo, será que o Poliana vai entender quando a sócia tomar uma decisão motivada pelo próprio desejo de alguma forma? Será que essa falta de desejo carnal vai deixa-lo cada vez mais isolado? Onde ele vai encontrar sua “motivação”? Será que o dinheiro vai subir mais à mente de Poliana? Será que vamos revelar ali uma personalidade narcisa também (agora que ele tá se sentindo negligenciado pela Aldeíde)? Gente, sei lá! Deixem esse homem (Matheus Nachtergaele) trabalharr!! E de preferência ao som de Homem com H, porque não sei como não fizeram isso antes!
Fechando a lista com alguns pensamentos aleatórios que me vêm do nada durante o dia, enquanto estou preenchendo planilhas no trabalho ou passando um café
🤔 Será que Lucimar vai mesmo voltar com o traste do Vasco? Meio Quero Esquecer Você dos Los Sobosos Postizos, meio só dessa vez da Clara Valverde com Joyce Alane.
👉 Os sonhos empreendorísticos do Vasco também tem som de Garota Nacional. Não sei se você já reparou, mas Garota Nacional é toda cantada em primeira pessoa, e essa pessoa é um cara com uma personalidade muito parecida com a do Vasco:
Conhece-te a ti mesmo e eu me conheço bem
Sou um qualquer vulgar, bem, às vezes me esqueço
E finjo que não finjo ao ignorar, eu sei
Que ela me domina no primeiro olhar
🙄 Por alguma razão o Afonso me passa muito a vibe de quem escuta Supermassive Black Hole, da banda Muse, enquanto tá correndo. Eu odeio Muse.
🤣 E que doido seria se o Renato depois de uma vida inteira sem se comprometer com ninguém, se comprometesse com a Solange, mas ela continuasse apaixonada pelo Alfonso. Eu tenho certeza que ele trairia ela antes de terminar e depois ainda ia chorar ao som de Monster do Shawn Mendes com o Justin Bieber. O pobi.
💃 Por outro lado, se tem uma coisa que a Solange não é, é coitada. Mas ela ainda vai se ferrar muito por esse jeito impulsivo. Ela vai arruinar não só o relacionamento com o Renato (pro bem dela), mas infelizmente com alguns outros ainda, provavelmente. Ainda assim, Deve ser horrível dormir sem mim segue como mantra na mocinha Duprá até o fim. Essa e mais uma pro repertório indie rock britânico que tem tudo a ver com essa energia faz-hora-extra-e-se-gaba-por-isso: Wet Dream, da banda Wet Leg.
🌱 Não tem nada que grite mais aquele Tiago, quando ele vai pra hipica pra vagabundear (sim porque se quem ta treinando o cavalo dele é o André, ele faz o que exatamente?), do que Los Hermanos. Então, para render Nossa Resenha, d’Os Garotin, pensei em algo um pouco mais esquerdo macho, agora que vamos ver ele namorando mas infelizmente (provavelmente) não explorando sentimentos novos. Por isso, O Vento, Los Hermanos.

👑 Odete Roitman certamente só tem músicas internacionais na playlist, portanto Daddy Issues, é mais que apropriada. É necessária na construção da personagem. Eu sinto que You’re So Dark também merece um lugar nessa lista, é a Odete Roitman, afinal.
☠️ E se por acaso ela não for morta nessa versão, se por alguma razão o grande mistério for quem morreu e não quem matou (alá The White Lotus), Eat Your Young é como eu espero que a gente descubra que ela continua vivíssima, meu amor!
A trilha sonora oficial tem mais ou menos uma hora e meia de duração. Mirei por ali e montei a playlist #148 VTMU: Vale Tudo Musical Universe (versão expandida), por diversão mesmo. Pode ser que eu adicione mais algumas ainda então, nesse caso, sinta-se à vontade para complementar a história você mesmo. Boa novela e boa audição!
A playlistando é um projeto pessoal que junta duas obsessões na rotina: escrever e ouvir música. Recomendando a publicação pra amigos ou comentando, você me ajuda a crescer no Substack e ainda me obriga a lidar de forma madura com opiniões alheias — coisa que, obviamente, eu faço com maestria.